Ao ler “Zeladores de Encantos: Memórias do Tronco Velho Pankararu” senti estar fazendo uma viagem no tempo, uma viagem pela nossa aldeia no tempo de nossos pais, de nossos avós, no território dos nossos antepassados. Um pé no passado e outro na contemporaneidade, mas visualizando o que os nossos mais velhos e mais velhas nos deixaram através de suas histórias, contadas para que a nossa cultura específica esteja viva nos dias de hoje. A força da oralidade em conexão com a essência do ser Pankararu.
Dessa forma pensei na metodologia de um indígena pesquisador ao escrever sobre uma memória narrativa, na qual também está inserido, por se tratar de cultura e tradição à qual ele também pertence. Então, uma relação de pertencimento mútuo, onde aspectos da cosmologia Pankararu passam a ser escritos pelas mãos de um filho seu. Que metodologias são utilizadas para compor tão preciosa arte que procede da escuta dos ensinamentos de nossos sábios e sábias? Obviamente uma escuta tão atenciosa quanto foi um dia a escuta de interlocutores/as que na participação dessa pesquisa contam as histórias que outrora ouviram dos seus antepassados e que foram sendo passadas de geração a geração. Nesse sentido, o que ficou registrado na mente da nossa gente passa a ser gravado através da prática da escrita acadêmica.
Essa produção apresenta, para nossas mentes, as tantas vertentes de uma geografia Pankararu, um tronco velho que resiste no tempo e no espaço, povoa o nosso imaginário e nos remete a uma viagem, ao mesmo tempo que nos traz uma realidade emblemática, mas fascinante, enquanto “ramas” dessa grande árvore.
Uma grande contribuição para o Povo Pankararu, por trazer a nossas mentes lembranças, reflexões e perspectivas, ao conectarmos o protagonismo das Marias, os troncos familiares e principalmente o sagrado dom de zelar Tonãs, daí a constituição e o entendimento sobre o “Tronco Velho Pankararu”. E para pessoas leitoras ou estudiosas da antropologia, uma excelente leitura enquanto elo de interpretações.
SUMÁRIO
13 apresentação
15 VIAGENS E DESAFIOS DE UM ANTROPÓLOGO INDÍGENA
22 Referencias bibliográficas
25 INTRODUÇÃO (Cabeceira)
25 Pankararu
28 Retomando as tradições
39 Os preliminares desta pesquisa
43 As condições de pesquisa: os efeitos do campo na escrita e a psicologia indígena
51 Das etnobiografias
54 A casa de espelhos e a descrição etnográfica
59 Territorialização
63 CAPÍTULO I
MEMÓRIAS DE NARCIO PEDRO
65 O pulo do Jaguar
67 LEMBRANÇAS DE ÍNDIO
67 O contato com o Tronco Pedro
74 Organização social e política Pankararu
76 O tempo-bom
83 Circuitos tradicionais
86 Conexões parciais
89 Narciso Pedro, Cacique Pankararu
89 As três sementes de Pankararu
92 Cacique Pankararu e as sementes do Tronco Velho
96 O brotar das sementes
99 Em sua oca
103 CAPÍTULO II
LUÍS CABOCO
105 FILHO DE TRADIÇÃO
105 A abordagem
110 Os laços da tradição
111 A ordem Chulé e os endereços da Tradição
114 O Tronco Aciole
115 A abertura do Espaço Sagrado
118 A mística Chulé
120 Lembranças de rituais
121 Danças, cantos e curas
122 Dançar praiá
124 Puxar (cantar) Toante e Toré
126 A prática de um curandeiro Pankararu
130 Os filhos de tradição do Tronco Aciole
133 CAPÍTULO III
FIRMINA CALÍ
135 “A GEMA PANKARARU”
138 Os Calú e o Poente
141 Tradições, Tronco e Pontas de Rama
144 O ato de apanhar conhecimento
146 O manejar da ciência Pankararu
149 “O Tempo de revoltoso”
151 “Índio de coração”
154 A Festa do Imbu
156 A Noite dos Passos e As Corridas
161 CONCLUSÃO (COICE)
165 BIBLIOGRAFIA
169 GLOSSÁRIO
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