O propósito central deste livro é analisar a importância e o escopo de novas políticas estratégicas de inovação para o Brasil pensadas à luz das mudanças na geopolítica mundial e a partir de uma perspectiva de desenvolvimento de longo prazo.
O mundo, em 2007/2008, chegou ao ápice de uma crise que vem se construindo ao longo dos últimos 30 anos. Essa crise é resultado da superacumulação de capital acompanhada de um crescente ganho de participação relativa das finanças sobre a economia real, processo conhecido como financeirização da economia. Em meio a esse contexto, tem-se a incorporação da produção de commodities no circuito de ativos financeiros, commodities essas que, ao longo dos anos 2000, passaram por um processo de valorização sem precedentes. São diversas as explicações já levantadas para esse fenômeno, mas a dinâmica efervescente das finanças observada desde os anos 1980 parece ter penetrado na indústria de commodities, impondo seu viés curtoprazista e especulativo, descolado da atividade produtiva.
Essas mudanças recentes na economia e na geopolítica internacional deram fôlego às visões teóricas que colocam ênfase no papel do Estado como regulador e, principalmente, agente central na definição de estratégias de desenvolvimento das economias nacionais. Os problemas de regulação do capital financeiro e sua relação com a capacidade produtiva colocaram novamente em xeque os pressupostos liberais. As mudanças no regime produtivo da economia global e na sua distribuição espacial, representadas, principalmente, pelo aumento de importância relativa dos Brics, reforçaram a importância do papel do Estado como agente de desenvolvimento e dos instrumentos de poder de compra do governo.
Por outro lado, as evidências crescentes de limites ambientais apontam para o esgotamento do paradigma produtivo baseado na exploração intensiva de recursos naturais, especialmente os não renováveis. Tais tendências reforçam a necessidade de uma transição para um paradigma produtivo centrado numa economia de baixo carbono e em recursos energéticos renováveis. O ritmo da mudança tecnológica, assim como as novas exigências por uma economia social e ambientalmente sustentável, são temas analisados neste livro, que corroboram a premência da construção de um novo arcabouço de políticas de inovação para o desenvolvimento social e ambientalmente sustentável.
Além dos textos introdutórios, o livro conta com 15 capítulos que abordam os diferentes aspectos relacionados ao contexto de crise internacional desencadeado em 2008. É possível afirmar que as análises se concentram em torno dos seguintes eixos temáticos: intensificação do processo de financeirização da economia, crise ambiental e esgotamento do atual paradigma tecnoprodutivo.
O livro está organizado em duas partes. A primeira, composta por seis capítulos, é de cunho mais geral, enquanto a segunda destaca a experiência brasileira e se concentra em cadeias produtivas específicas.
SUMÁRIOApresentação
Prefácio
Fernando Sandroni
Sustentabilidade socioambiental em um contexto de crise: uma introdução
José E. Cassiolato, Maria Gabriela Podcameni e Maria Clara C. Soares
Capítulo 1
Uma interpretação sobre a situação econômica mundial seguida por considerações sobre a crise ambiental
François Chesnais
Capítulo 2
Sistema nacional de inovação em um período de crise econômica global
Mario Scerri
Capítulo 3
Sobre mudança estrutural e políticas de conhecimento democrático
Rodrigo Arocena, e Judith Sutz
Capítulo 4
A natureza sob influência do setor financeiro
Claude Serfati
Capítulo 5
Desenvolvendo sustentabilidade e a emergência de um novo paradigma científico
Rasigan Maharajh
Capítulo 6
Crise, sustentabilidade e mudança tecnológica
Maria Clara C. Soares e José E. Cassiolato
Capítulo 7
Desenvolvimento e sustentabilidade na Amazônia
Maria do P. Socorro Rodrigues Chaves
Capítulo 8
Política de inovação no complexo industrial de saúde
Luigi Orsenigo
Capítulo 9
O papel das empresas transnacionais no sistema nacional de inovação brasileiro
José E. Cassiolato e Patrick Fontaine
Capítulo 10
A dinâmica da acumulação internacional e o posicionamento do Brasil
João M. H. Tavares e José E. Cassiolato
Capítulo 11
Inovação, sistemas produtivos e inovativos
Helena M. M. Lastres, Cristina Ribeiro Lemos, Cristiane Magdalena D’Avila Garcez,
Eduardo Kaplan Barbosa, Walsey de Assis Magalhães,
José Eduardo Pessoa de Andrade e Marcelo Machado da Silva
Capítulo 12
A política de Arranjos Produtivos Locais no escopo de uma estratégia de desenvolvimento brasileira
Marcelo G. Pessoa de Matos e Danilo Arruda
Capítulo 13
A dimensão social e a dimensão econômica do desenvolvimento
Carlos Gadelha, Laís Silveira Costa e Taís Raiher Borges
Capítulo 14
A política de inovação em nanotecnologia no Brasil em um contexto de crescimento e crise
Flávio J. M. Peixoto
Capítulo 15
Ventos da inovação
Maria Gabriela Podcameni e José E. Cassiolato
Os autores
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