Pesquisa: Por que administradores precisam entender disso?

Autor/Organizador: Carmen Migueles
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Uma introdução para aqueles que compram pesquisa e para alunos de graduação e pós-graduação em administração.

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Introdução

Antes de dizer sobre o que trata este livro, talvez fosse melhor dizer sobre o que não trata. Não é sobre como montar um projeto de pesquisa, nem como levantar dados, nem critérios, rigores e métodos do trabalho científico. É sobre como pensar sobre o potencial desse tipo de trabalho. Ou melhor: é uma introdução à natureza do esforço intelectual que é fazer sentido ao mundo através do conhecimento científico, e como esse esforço pode ajudar na gestão.

Este livro pretende servir como uma rápida introdução à lógica da pesquisa científica aplicada à administração, ilustrando como a pesquisa se relaciona à ação gerencial. Ao contrário da maioria dos livros na área, voltados para formar pesquisadores, tem um outro objetivo: servir de introdução ao assunto especialmente para aqueles que compram pesquisas e para os alunos de graduação em administração, MBA, e mestrado executivo, que precisam de uma rápida introdução às questões centrais da pesquisa para realizar os seus trabalhos acadêmicos, os quais provavelmente não pretendem ser pesquisadores, mas que a partir de seus cursos e do entendimento do potencial e dos limites da pesquisa científica estarão mais preparados para encomendá-las e utilizá-las. Precisam fazer isso porque precisam gerar resultados para as organizações de que participam.

De certa forma, este livro é, também, sobre gestão do conhecimento e da informação, no sentido de que, compreendido o mecanismo de produção de conhecimentos, fica mais fácil adquiri-lo e geri-lo. Muito se fala sobre a necessidade de produzir inovações para aumentar a competitividade, mas fala-se pouco sobre quais são os mecanismos de produção da inovação. A pesquisa é, por excelência, esse mecanismo, e é a base para um planejamento estratégico, de comunicação e de marketing consistente. Mas é claro que, ao situar-se nesses temas, um aluno de administração deve sentir-se mais preparado não só para atuar na empresa, mas também para elaborar o seu projeto de conclusão de curso.

A pesquisa raramente é pensada como uma atividade central em um currículo de administração. No entanto, as transformações contemporâneas trouxeram tamanha complexidade à atividade do administrador que ser capaz de interpretar a realidade na qual seus negócios ocorrem, a realidade interna da sua organização e a interação entre ambas é hoje, sem dúvida, a tarefa mais importante, e a mais difícil, que se coloca para o gestor. No entanto, muitos ainda são os administradores que saem da escola tratando teorias e ferramentas de gestão como uma questão de moda, quando, na verdade, são instrumentos para realizar essa tarefa.

Investe-se pouco em pesquisa no Brasil, e desperdiça-se muito dinheiro com essa “economia”. No entanto, pode-se perder muito mais com pesquisas malfeitas e mal interpretadas. Pior do que não fazer ou não encomendar pesquisas é fazer e encomendar mal, e, depois, investir o dinheiro da empresa para implementar a estratégia de gestão que se acredita mais adequada sobre informações erradas.

Muitas são as empresas que resistem à compra de pesquisas, por acreditar serem elas inúteis ou dispensáveis. Outras, as compram sem saber, exatamente, para que precisam do resultado que esta gerará. Um dos maiores problemas observados na forma como as empresas entendem as pesquisas é a grande confusão entre dados, informações e interpretação. A maioria das empresas, ao contratar alguém para coletar e organizar dados, pensa estar comprando pesquisa. Mas está comprando a parte braçal do trabalho, portanto está levando para casa dados, e não informações. Transformar dados em informações é um trabalho altamente complexo e qualificado, a ser desenvolvido por um trabalhador do conhecimento, e não algo que qualquer um, disposto a correr atrás de dados, consegue fazer. E, interpretar adequadamente essas informações, é tarefa mais complexa ainda, que uma boa parte dos pesquisadores que as organizações contratam, não são capazes de fazer. Uma interpretação adequada abre inúmeros caminhos de ação, facilita enormemente o processo de tomada de decisão, economiza tempo e recursos e aumenta a efetividade do trabalho. Então, a primeira coisa que precisamos saber sobre pesquisa é que deve haver vida inteligente por trás dos dados. Pesquisa não é sobre resmas e resmas de papel com estatísticas, mas sobre um novo olhar. É ver além dos limites do senso comum, é descobrir a razão de certas coisas, vislumbrar novos horizontes de ação.

Dependendo do nível em que nos encontramos, a complexidade deste trabalho de interpretação é tanta que mesmo pesquisadores experientes, com seus mestrados concluídos, precisam de orientação na hora de elaborar suas pesquisas de doutorado. É importante, para quem compra uma pesquisa, saber estimar o nível de profundidade necessário a uma interpretação adequada de informações para seus objetivos. O processo de produção científica é complexo, a troca de experiências e informações ajuda o pesquisador a descobrir novos caminhos, a ter novas visões, e a ver coisas que até então não tinha visto. Mesmo doutores precisam de interlocução com seus colegas. Congressos são realizados, organizam-se seminários, grupos de estudo, discussão etc. para dar conta dessa tarefa. Qual é o grau de profundidade que se deve esperar de pesquisas em administração? O que se deve esperar de um trabalho dessa natureza? Estaremos tratando disso nas próximas páginas. Até porque, é claro, não é nosso objetivo confundir a empresa com a universidade ou misturar seus papéis.

Na verdade, o que observamos no universo das empresas é uma tensão cada vez maior entre a necessidade de produção de inovação e conhecimento e a necessidade de agir de forma rápida e eficaz. Esses dois objetivos nem sempre, ou melhor, quase nunca, são conciliáveis. O tempo e o ritmo da inovação e do conhecimento não é o mesmo do da ação estratégica e da competição no mercado. Não há administrador hoje que não sinta uma enorme pressão interna para dar mais de si em termos de aprendizagem, leitura e capacitação, e ao mesmo tempo que não seja confrontado com o corte de pessoal, com o acirramento da rotina de trabalho e com a intensificação dos processos de decisão. A esperança é que, ao compreender como funciona o outro lado, o gestor possa integrar e gerenciar melhor, e não necessariamente produzir mais inovações internamente. Parcerias e alianças estratégicas com universidades e centros de pesquisa podem ser uma solução para reduzir os custos e produzir soluções mais eficazes. No entanto, a universidade não conhece, ou raramente conhece, as peculiaridades da empresa, do segmento, do mercado no qual o gestor encontra-se inserido. E o gestor raramente conhece as dificuldades e as peculiaridades do universo acadêmico. Construir pontes entre ambos é fundamental para que a gestão do conhecimento efetivamente ocorra. Saber circular entre esses dois universos é certamente uma vantagem para um gestor.

Pretende-se mostrar que um bom projeto de pesquisa normalmente não começa com um tema ambicioso, mas a partir da inquietação sobre como resolver um problema. Descobrir os contornos do problema é o primeiro passo na produção de conhecimentos, e pode ser o ponto de partida dessa aliança, pois como veremos a seguir, definir qual é o problema é o passo mais importante na direção da solução.

A discussão sobre essa questão da pesquisa e do conhecimento científico pode tomar vários caminhos. O mais árduo, e normalmente o mais encontrado nos livros voltados para a formação de pesquisadores, gira em torno de discussões sobre epistemologia, teoria do conhecimento, estratégias de validação de dados etc. Esse caminho, que tem os seus prazeres e os seus benefícios, normalmente demanda um recurso que é o mais escasso para os administradores: tempo. Utilizarei um atalho: falarei através de exemplos e metáforas, para facilitar o entendimento e evitar este percurso. É importante, no entanto, que o leitor tenha em mente, durante a leitura, que esta estratégia implica um grande risco de banalização da complexidade da pesquisa e do entendimento da natureza do conhecimento científico.

Como existem vários livros bons sobre metodologia no mercado, não repetirei temas que são, neles, bem explorados. Encontra-se, no final deste livro, uma lista de livros para consulta que preenchem as lacunas deste texto. Selecionei, de propósito, os mais recentes e fáceis de encontrar, pois uma consulta a eles se fará necessária para quem for fazer uma monografia de conclusão de curso ou uma dissertação. Este livro não pretende, também, servir para todas as áreas de iniciação científica. Para aqueles que querem entender o tipo de esforço que fazem cientistas em centros de pesquisas nas empresas e nas universidades, há outros livros certamente mais adequados.

SUMÁRIO

  • 1. Introdução
  • 2. Por que um administrador precisa entender de pesquisa?
  • 3. Por onde começar?
  • 4. O ler ativo e O ler passivo
  • 5. Sobre o conhecimento científico: que tipo de saber estamos buscando afinal?
  • 6. Sobre as limitações do conhecimento científico
  • 7. Sobre as teorias
  • 8. O conhecimento científico é instrumental por natureza
  • 9. Métodos quantitativos ou qualitativos?
  • 10. Interdisciplinaridade e multidisciplinaridade
  • 11. Então o que é metodologia de pesquisa e para que serve?
  • 12. Sobre a questão da validação dos dados
  • 13. Sobre o erro na escolha de método e outros tipos de erro
  • 14. A diferença entre dado e informação
  • 15. Sobre a validade das etnometodologias e cuidados na elaboração de questionários
  • 16. Estudo documental
  • 17. Pesquisa exploratória
  • 18. Pesquisa histórica
  • 19. Considerações finais
  • 20. Bibliografia básica recomendada para trabalhos de fim de curso
  • Peso 0,255 kg
    Dimensões 0,8 × 14,0 × 21,0 cm
    Idioma

    Ano

    2004

    Edição

    2

    ISBN

    85-76500-12-4

    Páginas

    156

    Versão

    ,

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