A peste é a doença mais letal de que a humanidade tem notícia, e o bacilo da peste, a Yersinia (Pasteurella) pestis, o microrganismo infeccioso mais perigoso, versátil e adaptativo da natureza.
A Peste Negra vem sendo estudada desde o século XIX, mesmo antes da descoberta do agente etiológico e do seu ciclo de transmissão. O interesse surgiu da necessidade de a ciência médica estar preparada para enfrentar uma crise de mortalidade jamais vista na história da humanidade. E como um toque macabro, no final desse mesmo século emergiu a Terceira Pandemia (1894-1930), a Peste Oriental, confrontando o mundo ocidental em plena industrialização e com leis sanitárias modernas. A bacteriologia já era uma ciência médica em 1894, e logo o agente dessa praga, a Yersinia pestis, foi identificado e os primeiros soros antipestosos produzidos. Pela primeira vez a ciência médica estava preparada para compreender sua causa e origem, e logo percebeu a mesma natureza da Peste Justiniana e da Peste Negra. Algumas décadas mais tarde, o uso dos bacilos da peste, do antraz e da tularemia em guerra biológica nos conflitos entre o Japão e a China e entre os EUA e a Coreia, além da recente ameaça do bioterrorismo, trouxe à tona novamente o interesse científico e histórico-epidemiológico na peste. Decifrar os enigmas históricos, ecológicos e evolucionários dessa catástrofe biológica é um imperativo médico, biológico, social, antropológico, estratégico e político. As pandemias de peste já ameaçaram a humanidade com o risco de extinção e seu patógeno letal, que jamais foi erradicado, vem lentamente recobrando suas forças. (…)
Este livro é sobre a Peste Negra, uma expressão aqui usada para designar as formas pandêmicas de peste, diferenciando-as das linhagens com potencial apenas para epidemias locais (o termo foi historicamente usado como referência à pandemia medieval). Contaremos sua história, investigaremos pontos obscuros, reexaminaremos e procuraremos solucionar controvérsias e tentaremos entender as engrenagens que movimentam a natureza a despertar aquilo que alguns investigadores consideram a maior ameaça biológica à existência da humanidade. Por fim, tentaremos solucionar alguns enigmas ainda pendentes sobre essa misteriosa doença. Apresentaremos também evidências de que a peste atacou a civilização antiga desde a 18ª dinastia egípcia e que seu foco encontra-se dormente até hoje na África Central/Oriental. Dele também saiu a peste que devastou o mundo civilizado, encerrando a Era Antiga: a pandemia do ano 540 de nossa Era, a Peste Justiniana, imprecisamente denominada de Primeira Pandemia. Pensamos que desse foco ancestral evoluiu a Yersinia pestis e dele se originou o foco da Ásia Central, de onde emergiram a Segunda e a Terceira Pandemias. (…)
Fernando Portela Câmara
SUMÁRIOPREÂMBULO
PRÓLOGO
1. CENÁRIOS
2. EPIDEMIAS E ZOONOSES
Noções gerais sobre contágio: epidemias
Noções sobre zoonose e epidemiologia da peste
3. A PESTE
Transmissão da peste
As formas da peste
Ecologia e sincronização climática dos focos
4. ORIGENS
Origem da peste na Antiguidade
Variedades biogeográficas de Yersinia pestis
5. A IRA DOS DEUSES
Morte em Amarna
A pandemia
A Ira de Javeh
6. A DESTRUIÇÃO DA CIVILIZAÇÃO DO BRONZE
A queda do mundo antigo
A peste filisteia
Evidências de atividade pestígena na Alta Antiguidadde
7. A MISTERIOSA PESTE DE ATENAS
A contribuição de outras fontes
O enigma da Peste de Atenas
A queda dos ideais
8. AS PESTES DO IMPÉRIO ROMANO
Glória e poder efêmeros
9. A PESTE JUSTINIANA
A peste antes de Constantinopla
Testemunhos da pandemia
O perdão divino e o nascimento da nova Europa
10. A PESTE NEGRA
O ataque à Europa, 1347-1351
A causa
A era da peste
O enigma da fonte
A doença
Outras modalidades de transmissão
Sazonalidade
Imunidade
O enigma da persistência da peste negra na Europa Ocidental
O enigma da extinção da peste na Europa Ocidental
Um mundo em convulsão
Fim de uma Era
11. A TERCEIRA PANDEMIA
Insights
Ratos e peste
O futuro
12. A PESTE NO BRASIL
13. YERSINIA!
Fatores de virulência
Ribotipos
Patogenicidade
Quando a Y. pestis tornou-se letal?
14. VIRULÊNCIA
Origem das cepas hipervirulentas de peste
15. CLIMA E PANDEMIAS
EPÍLOGO
BIBLIOGRAFIA
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