Há apenas três décadas a palavra "simulação" era usada quase sempre no sentido de fingimento. Hoje, envolvidos que estamos em redes digitais e ambientes virtuais, "fingimos" com toda naturalidade viajar para qualquer lugar, ser quem não somos, viver situações em que jamais ousaríamos arriscar nossa pele. Simulação virou sinônimo de experiência segura.
Este outro sentido não é novo. Ele tem raízes na ciência de Galileu, que erigiu o ensaio com modelos em método científico, e se consolidou nos primeiros estágios da ciência da computação digital com a simulação de Monte Carlo, precursora dos videogames e dos modelos de realidade artificial.
Mas o que fazer com a duplicidade de sentido? Podemos decretar que simulação-fingimento nada tem a ver com simulação-experimento, ou seja, que é um caso de homonímia. Podemos traçar uma fronteira moral com base no senso comum, que tende a encarar o experimento científico como uma simulação "do bem" e o fingimento como uma simulação "do mal".
Este livro defende, ao contrário, a tese de que existe uma ideia comum subjacente às noções de fingimento e de ensaio com modelo. Por trás de todo fingimento há um modelo, e todo experimento com modelo, mesmo científico, é montado para "enganar" de alguma forma o nosso olhar.
Considerando que um conceito é um modelo de natureza linguística, mais precisamente semântica, e que o desenvolvimento de uma tese sobre um conceito demanda exaustivos ensaios, então o que este livro oferece ao leitor é também – e não poderia deixar de ser – uma simulação.
SUMÁRIO
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