O trabalho de Armando Castro é uma contribuição singular entre tantas outras que vêm colaborando para o conhecimento do Recôncavo, mais precisamente Cachoeira, e em especial no que diz respeito à Irmandade da Boa Morte. Não se trata apenas de apresentar o valor inestimável da presença das Irmãs em Cachoeira, a conferir à cidade um toque ao mesmo tempo discreto e relevante. Toque de tradição e, ao mesmo tempo, de contemporaneidade. Sim, porque o mérito principal da pesquisa de Armando Castro me parece ser justamente articular os conteúdos tradicionais próprios da Irmandade, ou a ela associados, e os múltiplos mecanismos de interação que poderíamos chamar, aqui, de turistização.
Ao contrário do que se poderia pensar, descuidadamente, a indústria do turismo não é a simples abertura das portas de uma cidade ou região à visitação de diletantes. O turismo requer planejamento, tanto no âmbito dos poderes públicos como no âmbito da empresa privada. A hotelaria, a publicidade, a malha de transportes, a conexão entre as práticas profissionais locais e outras situadas em outros sítios, tudo isto se apresenta, cada vez mais, como uma complexa e intrincada equação que não pode alcançar êxito sem a preparação cuidadosa de tudo; numa palavra, o profissionalismo.
A tradição requer, para ser compreendida e admirada, uma postura respeitosa e inteligente dos diversos agentes no universo do turismo. Trata-se de um desafio. E este desafio foi encarado pelo autor da pesquisa que segue num esforço de se somar a quantos outros procuram contribuir para uma compreensão do processo de turistização que, ao invés de opor tradição e contemporaneidade como dois “lados” distantes do quadro social, prefere tratá-los como pólos cheios de energias tentadoras numa mesma dinâmica.
Tenho a impressão de que, mais que ninguém, é o visitante ou o turista quem melhor poderá aproveitar deste trabalho. A partir da produção crescente sobre o turismo na Bahia, desde os folhetos e prospectos de qualidade artística às pesquisas acadêmicas, poderemos ver visitantes mais curiosos e satisfeitos, a querer desvendar os mistérios deste mundo que é o Recôncavo Baiano.
Milton Moura
SUMÁRIO
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