Como indicam as atuais tensões internacionais, as culturas locais, as crenças e outras maneiras de ver o mundo tendem a contestar o pensamento único e seu modelo de desenvolvimento econômico imposto em nome da globalização. O quadro de análise e de interpretação proposto no livro enfatiza a multiplicidade dos universos e dos sítios simbólicos de pertencimento e nos faz descobrir os mecanismos de extensão e de declínio das civilizações. A atual globalização não é a única forma de mundialização possível, não é a primeira nem a última. A modernidade que a globalização promove abrange uma minoria e exclui a maioria da humanidade. Precisamos de um olhar múltiplo, com recuo, experiências vividas, trocas intelectuais, ação e reflexão para pôr em evidência a diversidade das culturas, das economias, das políticas e das sociedades. Por sua vez, a cultura do capital, cujo motor é a mercantilização, contradiz o princípio de diversidade. Assim, estamos diante do desafio: ao caráter uniforme do desenvolvimento global, opõe-se uma mundialização plural, com o mosaico dos sítios locais. A pluralidade em questão modifica de modo permanente a globalização neoliberal imposta como modelo único. A volta à dimensão local restitui trajetórias e histórias singulares dos povos, grupos e indivíduos, logo, toda a complexidade dos processos de mudança. Nesse sentido, vislumbra-se o fim da cultura de domínio e, em conseqüência, da ocidentalização do mundo, da qual ela é um dos mitos fundadores. Contestado em seus fundamentos, o Ocidente não sabe mais como manter sua dominação e sua legitimidade diante da humanidade inteira. Tal desestabilização significa, de um lado, o fim de uma concepção dividida do homem, da natureza e do mundo e, por outro lado, a emergência, ainda tateante, de uma civilização da diversidade e da fraternidade.
Henry Panhuys
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 1: A RESPOSTA DAS CULTURAS LOCAIS FRENTE À GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL
Introdução
1. A ampliação do poder do cultural
1.1. De um ponto de vista global
1.2. De um ponto de vista local
2. A ocidentalização se aproxima do fim?
2.1. Fontes e alcance da ocidentalização
2.2. Realidades, mitos e limites da cultura global
3. O mundo como mosaico de sítios humanos
3.1. Pluralismo contra reducionismo
3.2. Multiplicidade dos sítios simbólicos de pertencimento
CAPÍTULO 2: ACABAR COM O DESENVOLVIMENTO E SEU PARADIGMA BALÍSTICO
Introdução
1. Os fundamentos histórico-culturais do desenvolvimento nos séculos XVIII e XIX
2. A galáxia institucional do desenvolvimento no século XX: da missão civilizadora eurocentrada ao projeto globalizador americanocentrado
2.1. O período do entre-guerras e a SDN
2.2. O pós-guerra com o grupo BIRD-FMI e ONU
2.3. O novo mito do desenvolvimento sustentável
2.4. A abordagem norte-americana
2.5. A abordagem européia
2.6. O impulso das ONGs após as Independências
2.7. A divisão internacional do trabalho e das instituições de desenvolvimento
3. A "artilharia" do desenvolvimento
3.1. As palavras não são neutras
3.2. A metodologia de alvejamento balístico
3.3. Rumo a uma sociopedagogia do acompanhamento situado
CAPÍTULO 3: DO MÉTODO AO PARADIGMA DOS SÍTIOS SIMBÓLICOS DE PERTENCIMENTO
Introdução
1. Gênese e componentes do método
2. Funcionamento dos sítios e do método
3. Para além dos paradigmas desnorteantes que são o economicismo e o culturalismo
4. Ecce homo situs! A emergência do paradigma da teoria dos sítios
CAPÍTULO 4: TENTATIVA DE MELHORAR O DISPOSITIVO DA ABORDAGEM DOS SÍTIOS SIMBÓLICOS
Introdução
1. Grade geral de posicionamento dos sítios da atual sociedade mundial
1.1. Descrição e comentários
1.2. Zooming e travelling sobre alguns sítios ilustrativos
2. Uma quinzena de princípios de abordagem dos sítios simbólicos
2.1. No nível do sítio observado: princípios situacionais
2.2. No nível da relação entre sítios: princípios relacionais
2.3. No nível do sítio observador: princípios posicionais
2.4. Síntese dos princípios de abordagem teórica dos sítios
3. Pluralidade de parâmetros de identificação dos sítios
3.1. Três parâmetros estruturais e estruturantes: o triângulo da teoria dos sítios formado por espaço-tempo-sentido
3.2. Uma série de parâmetros conjunturais e conjecturais
3.3. Esboço de uma matriz teórica dos sítios
CONCLUSÃO: BALANÇO DO NOSSO PERCURSO EM TEORIA DOS SÍTIOS
1. Do universalismo ao pluralismo
2. Do insustentável desenvolvimento
3. Por uma socioeconomia plural
4. Rumo à sociedade pós-ocidental, pluricultural e democrática
5. Em síntese: uma abordagem ternária includente
BIBLIOGRAFIA
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