O presente volume analisa, incialmente, as discussões sobre o papel dos julgamentos de valor na economia normativa, que giram em torno das comparações interpessoais de utilidade mobilizando diversos argumentos epistemológicos inseridos em uma crítica mais ampla da existência de enunciados normativos ou avaliativos em economia. Em seguida, faz-se um amplo levantamento dos argumentos desenvolvidos a favor de uma dicotomia entre os fatos e os valores, que, de David Hume ao Círculo de Viena, marca o pensamento positivista em economia. Esses diferentes argumentos desempenham um papel central na história da metodologia econômica, sendo atacados por Sen com base em argumentos propriamente epistemológicos. Ato contínuo, são analisadas as estratégias trazidas pela nova economia do bem-estar e pela teoria da escolha social para conceber uma "relação aos valores" aceitável. Prefigurada com as proposições de Oskar Lange e de Abram Bergson, por exemplo, a teoria da escolha social iniciada com Arrow, armada de sua estrutura axiomática, pode ser interpretada como uma solução sedutora aos problemas levantados pelas exigências positivistas, particularmente aquelas formuladas por Lionel Robbins. E isso porque ela oferece a possibilidade de formular critérios de avaliação e preceitos da economia política racional, ligados ao caráter explícito dos julgamentos de valor que ela contém. Essa passagem através dos argumentos filosóficos e epistemológicos formulados com o objetivo de fundar a dimensão positiva da economia permite aclarar a contribuição epistemológica de Sen para este debate. Ao refutar os argumentos de autores positivistas, como Lionel Robbins em economia, e Alfred Ayer em filosofia, e ao contestar a existência de uma dicotomia estrita entre economia e ética, Sen propõe para si a tarefa de demonstrar a possibilidade epistemológica de um debate em economia que seja, ao mesmo tempo, ético e racional. Essa contribuição epistemológica de Sen constitui a primeira etapa do conjunto de sua reflexão em torno da dimensão normativa da teoria econômica.
SUMÁRIO13 Introdução Geral
Volume I
35 Ética, Economia e Epistemologia
37 Introdução
Capítulo 1
45 Comparações interpessoais de bem-estar: a prosa cotidiana
46 Introdução
50 1.1. A economia do bem-estar: controvérsias de método e disputas de definição
60 1.2. A "ciência" ou a incomensurabilidade do bem-estar
72 1.3. Sen ou a comparabilidade parcial do bem-estar
84 1.4. O bem-estar, entre a soberania do consumidor e o paternalismo
89 À guisa de conclusão
Capítulo 2
93 O drama positivista
94 Introdução
99 2.1. Da dicotomia entre fatos e valores
113 2.2. Robbins, entre a tese do abismo e a neutralidade axiológica
116 À guisa de conclusão
Capítulo 3
123 Da economia do bem-estar à teoria da escolha social: a solução axiomática
124 Introdução
125 3.1. Os meandros da "nova" economia do bem-estar
149 3.2. A "divisão do trabalho" axiomática
172 À guisa de conclusão
Capítulo 4
175 A racionalidade do debate ético em economia
176 Introdução
177 4.1. Sen, ou a economia ética
182 4.2. O prescritivismo de Richard M. Hare
186 4.3. A possibilidade de um debate moral racional
197 À guisa de conclusão
199 Conclusão do Volume I
ANEXO 1
205 Crítica da maldade prática da extrema-direita neoliberal
233 Notas
261 Bibliografia
283 Sobre o autor
Avaliações
Não há comentários ainda.