Caro Leitor, o livro que você tem em mãos é fruto de uma difícil conjunção: o músico apaixonado, que ensaia, sabe tudo sobre a cena roqueira, acredita em suas composições e o produtor cultural, que deve pensar como investir, gerir e publicizar seu produto, tendo por isso de abrir mão do lado romântico da relação com a mídia e com o ato de criação. Marcelo Martins é corajoso, não tem medo de transformar sua experiência musical em manual do tipo faça-você-mesmo, assumindo sem problemas o “do-it-yourself” propalado pelas bandas de garagem e eternizado pelo movimento punk. Mas, para Marcelo, independente não significa “tosco” ou de qualquer jeito. Valendo-se das facilidades das novas tecnologias e do aprendizado em dois discos, o músico e jornalista não romantiza o rock, a banda ou o processo de criação. Como bem mostra o livro, tocar, compor e gravar exige planejamento, trabalho e dedicação; o que, na maioria das vezes, não significa “grana” e reconhecimento imediatos. Por isso, se você que está lendo este prefácio é músico ou pretende ser, encare os passos indicados por Marcelo como um processo de desvelamento íntimo, um roqueiro que não tem medo de assumir que o rock pressupõe rotina e trabalho racional. Mas, se você é produtor e adquiriu este livro querendo compreender melhor o mundo da criação musical independente, aproveite e reflita o quanto de paixão e desejo estão inscritos no sonho de fazer e viver de rock’n’roll no Brasil. É essa tensão, o encontro entre a fantasia e o trabalho racional que torna o livro de Marcelo Martins importantíssimo para se produzir e pensar a música independente.
Jeder Janotti Jr
Professor da Universidade Federal da Bahia
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