O interesse pela cultura do subúrbio carioca e seus desdobramentos resultaram em um primeiro estudo acerca das relações entre a cidade do Rio de Janeiro e suas manifestações culturais envolvendo comida, música e comunicação. Buscava, então, investigar relações entre a comida, enquanto agente comunicacional, e o imaginário social através da história, do cotidiano e das práticas de sociabilidade da região de Madureira e Oswaldo Cruz. Três elementos fazem parte desse imaginário carioca: o trem, o samba e a comida. Partindo desse cenário, empreendi esforços no sentido da construção de uma análise acerca da formação do bairro – enquanto subúrbio -, das memórias, das tradições e do cotidiano relatado por aquelas que fazem efervescência em Madureira – as yabás.12
A imersão no campo de pesquisa, a Feira das Yabás, iniciada em 2013, permitiu acompanhar sua persistência tanto em aspectos socioculturais, políticos e econômicos da cidade quanto em transformações do cotidiano do subúrbio carioca.
A Feira das Yabás está para além de um evento de gastronomia e música, realizada no espaço público da Praça Paulo da Portela, entre os bairros de Oswaldo Cruz e Madureira. O evento reúne 16 barracas com comidas típicas (mas não exclusivas) do subúrbio carioca, organizadas por mulheres representantes da cultura da cidade, matriarcas, descendentes de personalidades marcantes da história do Rio de Janeiro.
Essa pesquisa evidenciou a relação de parentalidade e dos antepassados das yabás com as artes, a música, a culinária, os espaços urbanos e o cotidiano do subúrbio, por meio das diversas manifestações culturais: as escolas de samba, o jongo, as religiões de matrizes africanas, os bailes de charme, o Parque Madureira, o Mercadão e as estações de trem que ligam os bairros suburbanos na chamada zona norte (CHAO, 2015). A gastronomia oferecida nas barracas tem relação direta com as memórias, as vivências familiares e a vida diária e comum da cidade. O mesmo ocorre com as músicas e atrações artísticas contemporâneas que se apresentam no palco em meio à praça. A primeira versão da Feira das Yabás surgiu em 2008 e, durante sete anos, venho observando as transformações e representações do evento para o cotidiano da cidade.
1 Os termos Iabá, Aiabá, Yabás, e Oiá, referem-se à língua iorubana, dialeto africano, que e traduzidaos, significam rainha, mãe, senhora idosa, acolhimento, aquela que alimenta seus filhos. Disponível em: http://www.alaketu.com.br/ritos/dicionario_ioruba.htm. Acesso em: 14 jan. 2014.
2 Vale ressaltar que, neste estudo, opto pelo uso do termo yabá, naturalizando-o ao vernáculo da língua portuguesa, acreditando que, com tal adoção do termo, sigo fiel ao título do objeto de pesquisa: Feira das Yabás.
SUMÁRIO10 INTRODUÇÃO
1
16 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
18 1.1 Procedimentos de coleta
20 1.2 O campo de pesquisa guiado pela metodologia de João Maia
23 1.3 Sujeitos do estudo
26 1.4 Modos de aproximação
2
27 RIO DE JANEIRO: DA CÔDEA DE PÃO À FEIJOADA DE QUINTAL
27 2.1 Sociabilidade e comensalidade dos espaços de lazer popular
30 2.2 Restaurant – comida saudável aos "fracos do peito"
32 2.3 Botica, Butiquinha
35 2.4 Quiosques
38 2.5 Boteco, Botequim
40 2.6 Quintais do Subúrbio
3
49 SUBÚRBIO CARIOCA
49 3.1 Sub-urbe para quem? Revisitando conceitos, formação e estigmas
59 3.2 Subúrbio Criativo – reformas e megaeventos
68 3.3 Yabás do subúrbio carioca
82 3.4 Comida como cultura
4
89 COMIDA DE SUBÚRBIO
90 4.1 Memória e comensalidade da comida no subúrbio
98 4.2 Cultura culinária: dos sabores da cidade aos saberes das Yabás
123 4.3 Sensorialidade da comida de subúrbio
144 4.4 Depoimentos de uma sensorialidade particular
153 CONSIDERAÇÕES FINAIS
156 REFERÊNCIAS
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