A concentração da produção científica é um dos fatores de manutenção dos desequilíbrios regionais. Isso ocorre em várias partes do mundo, incluindo países líderes mundiais em ciência e tecnologia, onde a produção tende a se concentrar fortemente em algumas poucas regiões. A desconcentração relativa que ocorreu nos últimos anos no Brasil, documentada neste estudo, tem uma importância muito grande para o desenvolvimento regional, com potenciais ganhos de competitividade das empresas locais em função da possibilidade de absorção dos conhecimentos gerados.
Spillovers de conhecimento – transbordamentos por meio dos quais a produção acadêmica/científica é absorvida, assimilada e utilizada pelas firmas do setor privado, constituindo uma fonte primária da inovação tecnológica – são hoje reconhecidamente concentrados espacialmente. Isto é, a probabilidade de as empresas virem a utilizar os conhecimentos gerados depende de sua proximidade geográfica com os centros produtores desses conhecimentos – no caso, as universidades e centros de pesquisa.
Não é trivial, todavia, mensurar a absorção do conhecimento por parte do setor produtivo materializado em produtos e processos que contribuem para o desenvolvimento econômico de um país ou região. As dificuldades em quantificar fluxos de conhecimento, propagadas por Paul Krugman ao considerá-los invisíveis aos olhos dos pesquisadores, uma vez que não deixariam pegadas a serem mensuradas e trilhadas, nem sempre se tornam intransponíveis. Adam Jaffe e seus coautores perseguiram pegadas e, em estudo pioneiro, confirmaram haver evidências de que os spillovers de conhecimento são concentrados no espaço ao compararem a localização geográfica de citações de patentes e das respectivas patentes citadas.1
Mais recentemente, as trilhas do conhecimento têm sido identificadas por outras pegadas além das patentes, igualmente mensuráveis. A análise de redes colaborativas entre firmas e universidades, e entre as próprias universidades, por exemplo, ajudam a determinar a influência das redes na explicação dos processos de criação e difusão do conhecimento. Otávio Sidone se aventurou por uma dessas trilhas ao nos oferecer um melhor entendimento do papel desempenhado pela geografia nas redes de colaboração científica no Brasil. O autor analisou mais de um milhão de currículos de pesquisadores que atuam em instituições brasileiras, identificando, em mais de sete milhões de publicações, coautorias em produções bibliográficas relevantes para as grandes áreas de conhecimento. Os resultados oferecem ao leitor fotografias detalhadas que nos permitem compreender a evolução geográfica da produção científica e a disposição dos fluxos de conhecimento no Brasil, considerando papel da proximidade geográfica determinante das interações colaborativas entre os pesquisadores, temas que ainda não haviam sido explorados de forma compreensiva para o caso brasileiro. Trata-se de um dos primeiros estudos de cientometria espacial para o Brasil, talvez o mais completo tanto de vista da espacialidade quanto da temporalidade. Por seu rigor metodológico, sua originalidade e seu caráter pioneiro na cientometria brasileira, este livro tem o potencial de deixar uma pegada marcante a ser trilhada por outros pesquisadores.
Eduardo Amaral Haddad
São Paulo, 21 de outubro de 2018
1 Jaffe et al. (1993).
SUMÁRIOParte I 25
O espaço da ciência 25
1 Economia do conhecimento 27
1.1 Caracterização da economia do conhecimento 27
1.2 Economia baseada em conhecimento 40
1.3 Conclusão 53
2 A produção de conhecimento
no mundo: uma nova ordem? 55
2.1 Introdução 55
2.2 Cientometria 56
2.3 Colaboração científica 63
2.4 Conclusão 73
Parte II 75
A ciência no espaço 75
3 Cientometria espacial: a geografia da ciência 77
3.1 A dimensão espacial do conhecimento 78
3.2 Cientometria espacial e economia 81
3.3 A proximidade entre os pesquisadores 91
3.4 Cientometria espacial no Brasil 98
3.5 Conclusão 106
4 A geografia da produção científica no Brasil 109
4.1 Conjunto de informações analisadas 110
4.2 Evolução da produção científica regional no Brasil 125
4.3 Conclusão 150
5 A geografia das redes de colaboração científica
no Brasil 153
5.1 Análise de redes sociais e espaciais 154
5.2 Evolução das redes regionais de colaboração científica no Brasil 163
5.3 A proximidade entre pesquisadores brasileiros 181
5.4 Conclusão 184
6 Considerações finais 187
7 Referências 191
Avaliações
Não há comentários ainda.