Este livro foi preparado ao longo do ano de 2021 e é o resultado da mobilização de estudantes da Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. Desde 2017, uma reforma curricular tornou regular a oferta de disciplinas especialmente dedicadas a discutir as relações entre o Ensino de História e as lutas antirracistas no Brasil. Em 2021, estudantes matriculados nesta disciplina foram convidados a escrever textos em que selecionassem materiais (vídeos, filmes, músicas, livros, podcasts…) considerados interessantes para o Ensino de História em uma perspectiva de combate ao racismo. A ideia central do projeto foi a de criar pontes e diálogos entre estudantes da UFF _ professores de História em formação_, e nossos colegas, profissionais atuantes nas redes de ensino. A intensa experiência de troca e convivência cotidiana nas escolas, tão importante na formação de novos docentes, foi uma das atividades educacionais e sociais fortemente afetadas pelo período da pandemia da Covid 19. O livro foi concebido, então, para manter próximos e em diálogo nossos estudantes da UFF e os professores do ensino básico.
A publicação, em 2022, coincide com os dez anos de implementação da Lei 12.711, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em agosto de 2012 e posteriormente conhecida como a lei das cotas no ensino federal. Como parte de uma expressiva política pública de reparação e promoção de justiça social, a lei definiu as regras para o acesso de estudantes negros, indígenas e de pessoas com deficiência às instituições de educação superior, além de contemplar estudantes que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas. Esta lei veio somar-se a outras importantes conquistas brasileiras, fruto da ação do movimento negro em sua longa história de combate ao racismo no país. Insere-se, igualmente, em um panorama internacional, particularmente vinculado ao impacto da agenda antirracista da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada na África do Sul, em 2001. Esta agenda contribuiu para que a ONU propusesse a instauração da Década Internacional de Afrodescendentes a partir de 2015, referencial significativo na discussão sobre dever de memória, justiça reparativa e ações afirmativas em escala internacional.
Com alguns destes referenciais nacionais e internacionais em mente, buscamos debater em nossas aulas as iniciativas mais locais de mobilização, do campo das Humanidades e da Educação, nas ações de combate ao racismo. Na Universidade Federal Fluminense, ainda no ano de 1975, foi fundado o Grupo de Trabalho André Rebouças, recentemente estudado pela historiadora e jornalista Sandra Martins da Silva.1 O Grupo, conhecido como GTAR, foi formado por estudantes da universidade envolvidos na luta pela redemocratização política e pelo antirracismo. Criaram uma proposta pioneira de intervenção intelectual e social, construída coletivamente através da atuação da historiadora Beatriz Nascimento, do sociólogo Eduardo Oliveira e Oliveira, na ocasião doutorando na USP, e de diversos jovens estudantes engajados no estudo das relações raciais no Brasil, a partir de uma perspectiva de transformação da sociedade. O intercâmbio de informações acadêmicas tornou-se sistemático nas Semanas de Estudos sobre a Contribuição do Negro na Formação Social Brasileira promovidas pelo GTAR. Anualmente, o seminário reunia especialistas para tratar da temática racial, originando a publicação dos Cadernos de Estudos, pioneiros no Brasil na época. O conhecimento social e histórico debatido e divulgado pelo Grupo projetava-se para além do ambiente acadêmico por relacionar-se aos compromissos de um movimento social amplo. Um movimento negro educador nos muitos níveis que essa palavra admite: na escola, na vida profissional, na comunidade e na universidade.
1 SILVA, S M.. O GTAR (Grupo de Trabalho André Rebouças) na Universidade Federal Fluminense: Memória social, intelectuais negros e a universidade pública (1975/1995). Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em História Comparada, UFRJ, 2018.
SUMÁRIO7 Apresentação
12 O rolê do povo negro na literatura
17 A Questão Racial na Educação Básica:O Podcast Atlântico Negro e as Novas Tecnologias
21 Museu Afrodigital Galeria Rio de Janeiro
27 A música como recurso didático no ensino de História e relações raciais
34 Pelas rimas do rap e do hip hop: outras formas de falar sobre as religiões de matriz africana na escola
39 A Carne: reflexões em torno de vivências pessoais
44 Arte e Tecnologia na Educação Antirracista
48 Instrumento popular como ferramenta para (re)educar: o impacto cultural e a importância educativa de uma canção para ninar gente grande
53 Pocahontas como ferramenta didática: altos e baixos de uma produção de sucesso
59 A questão indígena: os percalços na construção de um modelo educacional inclusivo
64 Sobre o conceito de raça e a racialização dos povos do Oriente
72 Os dois lados do Atlântico negro
77 Roda de conversa e ciclo de debates:a importância das discussões sobre o racismo em sala de aula
82 A representatividade de meninas negras como produto da oralidade e ancestralidade na literatura e no audiovisual para a formação da identidade individual e coletiva
90 Interdisciplinaridade no ensino antirracista
96 "Recebe, meu amigo, este pequeno presente que te faço, e compra com ele a tua liberdade."
100 Sobre autoras e autores
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