Trinta anos se passaram desde o Caso Riocentro. Neste espaço de tempo, a globalização rompeu as fronteiras e a tecnologia acabou com a distância. O mundo, seguramente, não é o mesmo. Apesar disso, muitos brasileiros, com idade e memória suficiente, se recordam e ainda carregam impressões e sentimentos a respeito.
Explicações oficiais, versões, suposições, tudo leva a crer que nunca se saberá exatamente o que aconteceu naquele estacionamento.
Os desdobramentos do fato são conhecidos. O caso funcionou como a verdadeira pá de cal na ditadura militar, deixando claro que nenhum brasileiro, incluindo os comandantes militares, estava mais disposto a tolerar um ato de violência e terrorismo como aquele.
E nós ficamos assim, com nossas conclusões, pensando eternamente no que teria acontecido se aquelas bombas explodissem. Aliviados por poder ainda se orgulhar em ser um país cordial, onde jamais ocorreu um atentado terrorista violento, com um grande número de vítimas fatais.
Fortunato consegue, através deste roteiro cinematográfico, mais que relembrar fatos e apresentá-los às novas gerações, mostrar um possível avesso do caso, um outro lado do balcão.
Ao conhecer Sady e acompanhar sua trajetória de vida, podemos ter, através da sua ótica, uma explicação lógica para algo inexplicável – o menino que cresceu aprendendo a odiar os comunistas vira o ativista que não sabe parar de odiar.
Ler este livro e observar outros ângulos do fato, em um saudável distanciamento, é poder refletir sobre este momento de radicalização e dizer, como Clarice Lispector, “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.
Carla Esmeralda
Produtora, consultora de programas
e projetos audiovisuais e idealizadora de projetos de desenvolvimento
de roteiros para cinema.
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