O estudo do tema desenvolvimento econômico costumava ser concebido em escala internacional (evolução do capitalismo, teorias da dependência etc.) ou nacional (papel do Estado central, taxa de investimento etc.). Nesta visão, o desenvolvimento dos espaços infranacionais seria determinado pelas estruturas econômicas globais e pela hierarquia internacional/nacional. Todavia, a diferenciação dos espaços no interior de um país mostra que certos lugares conseguem valorizar as suas vantagens e mobilizar os seus recursos mais, ou melhor, que outros. A partir dos anos de 1980 a globalização acentua estas tendências, e as diferenciações, em um novo contexto ou paradigma no qual o desenvolvimento não depende exclusivamente da escala nacional, são definidas pela capacidade de cada país ou de algumas regiões ou localidades em integrar-se aos fluxos “mundializados” de interdependência das atividades econômicas. A metáfora do arquipélago usada por Pierre Veltz, por exemplo, resume o processo de desintegração vertical das empresas e a desconcentração e descentralização das economias nacionais em um ambiente completamente aberto para o mundo e criação de espaços vazios entre os pólos vinculados ao exterior (Veltz, 1996).
Iluminadas tanto pelas novas concepções do desenvolvimento quanto pelas oportunidades geradas pelos processos de abertura econômica e de descentralização, as experiências contemporâneas de dinamização ou de revitalização das coletividades locais e dos tecidos empresariais associados a elas se tornaram numerosas no Brasil. Este livro é uma apresentação de uma série destas experiências de desenvolvimento local/municipal ou microrregional no país e de reflexões mais metodológicas sobre a maneira de abordar e interpretar estas histórias e trajetórias econômicas localizadas.
O objetivo deste livro é indicar as principais contribuições já realizadas por alguns autores brasileiros e seus grupos de pesquisa, suas diversidades de abordagens e experiências estudadas no tema desenvolvimento local. Além disso, fazer um esforço coletivo para apresentar um Estado da arte bastante abrangente dos estudos a respeito deste tema no Brasil e levantar fragilidades e hipóteses para que novos caminhos de pesquisa possam ser propostos. É importante deixar claro para o leitor que, se estes estudos não são suficientes para a criação de um modelo abstrato de desenvolvimento local e, em conseqüência, identificar determinantes mais ou menos importantes do desenvolvimento econômico local, eles podem contribuir fortemente para uma reflexão mais aprofundada do tema.
As contribuições aqui presentes são fruto de uma adesão voluntária de alguns grupos de pesquisa à rede de estudos sobre o desenvolvimento local denominada Rede de Estudos sobre Desenvolvimento Local (REDEVELOC), uma iniciativa do Grupo de Economia da Inovação, do Instituto de Economia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEI/IE/UFRJ), em parceria com o Institut de Recherche pour le Développement (IRD), instituto público francês de pesquisa. Foram reunidas, além da UFRJ e do IRD, 10 instituições, a saber, DPCT-IG/Unicamp, POLI/USP, UFRP, Unicemp/PR, UFSC, UFCG, FEE/RS, UFC, FEA/UFJF/MG e Cedeplar/UFMG, localizadas em oito Estados brasileiros.
Yves-A. Fauré e Lia Hasenclever
SUMÁRIOFiguras, Quadros e Tabelas
Siglas
Introdução
1. O que é o desenvolvimento local?
2. Políticas para o desenvolvimento local
3. O Brasil e as manifestações de desenvolvimento local: identificação das aglomerações e das iniciativas
4. Estrutura do livro e conteúdo dos estudos
1 Sistemas locais de produção: indicadores, estudos de casos e políticas
1. Metodologia para mapear, identificar e caracterizar SLPs
2. Evidências produzidas pela aplicação da metodologia
3. Políticas para SLPs
Considerações Finais
2 Modelo de avaliação sistêmica de clusters: a experiência paranaense
1. Mapeando os aglomerados produtivos
2. Estudando as aglomerações especializadas
3. Sistema de ciência e tecnologia, as agências e os projetos de apoio ao desenvolvimento de clusters
4. Competitividade e sustentabilidade de clusters: medida de impacto no desenvolvimento local
3 Desenvolvimento local em Santa Catarina: um breve perfil da pesquisa
1. Estudando o desenvolvimento local em Santa Catarina
2. Síntese de alguns resultados
3. Dos estudos de caso a uma reflexão sobre o desenvolvimento em nível local
4 Experiências de desenvolvimento local na Paraíba: o caso do programa “Pacto Novo Cariri”
1. O “Pacto Novo Cariri Paraibano”, programa de desenvolvimento regional, local, integrado e sustentável
2. Situação anterior, ações e resultados obtidos
Considerações Finais
5 A experiência de desenvolvimento local nos municípios da região de Caxias do Sul (RS): diversificação ou especialização?
1. Identificação da região e diversificação de sua indústria
2. Principais resultados observados por tema
Reflexões conclusivas: crescimento ou desenvolvimento local?
6 Configurações produtivas locais e desenvolvimento municipal: explorações no interior fluminense
1. A problemática de desenvolvimento local e o foco da pesquisa
2. Principais linhas e meios de investigação
3. O meio empresarial: defasagens e atomização
4. A atuação dos projetos de apoio
5. As municipalidades e o desenvolvimento local
6. Especulações sobre os protagonistas do desenvolvimento local
7 A política de desenvolvimento local e regional no Ceará
1. Contexto econômico e institucional
2. A política de desenvolvimento local e regional do Ceará
3. Planos de desenvolvimento regional
4. Escritórios de desenvolvimento regional
5. Consultorias empresariais
6. Agentes regionais de inovação
Conclusões
8 Políticas públicas e desenvolvimento de arranjos produtivos locais: reflexões sobre o programa gaúcho
1. Tema e objetivos do Programa SLP/Sedai-RS
2. Resumo dos diagnósticos efetuados
3. Políticas públicas e APLs
Conclusões
9 Tempo e espaço nas estratégias de desenvolvimento local: estudo de caso de Juiz de Fora (MG)
1. Definição de “tempo e espaço”
2. Disritmia espaço-tempo
3. Particularidades de Juiz de Fora
Conclusão
10 Aglomerações produtivas em espaços periféricos: uma abordagem regional
1. Sistemas produtivos locais
2. Sistemas produtivos com desenvolvimento restringido em espaços industriais periféricos
Considerações finais
Conclusão: lições e perspectivas
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