Este livro traz contribuição importante para uma compreensão mais abrangente do desenvolvimento de atividades do setor de serviços no país, ao ampliar a agenda de pesquisa, em particular, para as chamadas indústrias criativas. Estimula oportunas e necessárias reflexões conceituais e analíticas, com significativas implicações para a formulação de políticas públicas e privadas de apoio e promoção.
As atividades intensivas em cultura estão dentre as que mais vêm contribuindo para o crescimento da economia mundial. Contudo, ainda é imenso o desafio de analisar e mensurar sua importância econômica e inovativa. É nesta direção que o livro se propõe a avançar, oferecendo um diferencial ao dar visibilidade à contribuição que turismo e cultura aportam ao desenvolvimento econômico e social. A invisibilidade destas atividades, conforme destacado no primeiro capítulo, possui três dimensões. A primeira, ligada à intangibilidade de grande parte de seus insumos e produtos. A segunda é relacionada ao elevado grau de informalidade destas atividades e sua produção. Já a terceira dimensão resulta da própria falta de tradição teórico-conceitual e de estudos e análises sobre seu papel.
Os autores do livro, ao selecionarem casos de atividades turísticas e culturais em diferentes estados e regiões brasileiras, tornam visíveis seus contornos e aporte ao desenvolvimento, especialmente à geração de emprego e renda. Utilizam o enfoque de arranjos e sistemas produtivos locais cuja relevância se destaca tanto como instrumento analítico quanto para orientação de políticas. Nos diferentes capítulos, vemos que as atividades intensivas em cultura mobilizam vastas cadeias de fornecedores e distribuidores de bens e serviços que envolvem desde grandes corporações até significativos contingentes de micro e pequenas empresas formais e informais. A visão ampliada dos arranjos e sistemas produtivos e inovativos desvenda a multiplicidade de atores e atividades envolvidos. Além das empresas, abrange organismos de apoio, financiamento, regulação, coordenação, representação, geração e transmissão de conhecimentos.
Ao contrário das atividades produtivas tradicionais, as intensivas em cultura dependem menos de recursos finitos. Seu crescimento, além de escapar das limitações tradicionais impostas pelas pressões ao consumo de recursos escassos, coloca novas alternativas ao desenvolvimento. Isto se torna ainda mais relevante no caso do Brasil, país de vastas riquezas e diversidade natural, patrimonial e cultural, fruto de um território de dimensões continentais e da fusão de múltiplas etnias. Para que estas oportunidades sejam potencializadas, mostra-se necessária a implementação de políticas de preservação e valorização destas riquezas numa perspectiva de longo prazo.
Para além da apreciação de recursos naturais e culturais locais, regionais e brasileiros, destaque deve ser feito ao inestimável papel que tais atividades têm ao reforço da identidade e da inovatividade. Os autores deste livro seguem a tradição de outros, como Celso Furtado, ao destacarem a estreita relação entre cultura, criatividade, poder e desenvolvimento. Ao definir criatividade como a capacidade inventiva da sociedade para combinar e desenvolver as forças produtivas sob um contexto cultural, Furtado alertava para o risco da desconexão entre inovação e cultura. Por um lado, indagava como preservar o gênio inventivo de nossa cultura em face da necessidade de assimilar técnicas que, se aumentam a capacidade de ação, também podem ser vetores de ressecamento de nossas raízes culturais. Mas, por outro lado, teve o cuidado de considerar os impactos positivos desta evolução sobre um potencial cultural que possui a capacidade de se renovar e recriar. Em linha semelhante, aliás, com os modernistas capitaneados por Mário e Oswald de Andrade, os quais viam a assimilação de várias contribuições, com a subseqüente transformação destas em algo próprio, tanto como característica da cultura brasileira quanto como uma de suas virtudes.
Reconhecendo a relevância de tais atividades, também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social se colocou o desafio de apoiar empreendimentos culturais, o que levou à criação de um departamento voltado à cultura, entretenimento e turismo. O BNDES é atualmente um dos maiores patrocinadores no país de projetos culturais nas áreas de patrimônio histórico e arqueológico, acervos, cinema e música. Este esforço tem confirmado a contribuição dessas áreas ao desenvolvimento tanto em suas dimensões econômica e social, quanto simbólica. Uma de nossas apostas é na oportunidade de investir em arranjos produtivos locais intensivos em cultura visando descortinar novas alternativas de desenvolvimento inclusivo, criativo e coeso, além de sustentável.
Rio de Janeiro, outubro de 2008
Luciano Coutinho
Presidente do BNDES
José E. Cassiolato, Marcelo Pessoa de Matos e Helena M. M. Lastres
Francisco de Assis Costa, Marcelo Bentes Diniz, Alexandre Magno de Melo Farias, José Nazareno Sousa e José de Alencar Costa
Jair do Amaral Filho e Rosemary de Matos Cordeiro
Lúcia Maria Góes Moutinho, Paulo Fernando de Moura Bezerra Cavalcanti Filho, Luiz Rodrigues Kehrle e Luís Henrique Romani Campos
Lúcia Maria Góes Moutinho, Paulo Fernando de Moura Bezerra Cavalcanti Filho, Luiz Rodrigues Kehrle e Luís Henrique Romani Campos
Valdênia Apolinário e Maria Lussieu da Silva
Sérgio Duarte de Castro
Maria Cecília Junqueira Lustosa e André Maia Gomes Lages
Lúcia Maria Góes Moutinho, Paulo Fernando de Moura Bezerra Cavalcanti Filho, Luiz Rodrigues Kehrle e Luís Henrique Romani Campos
Cleonice Alexandre Le Bourlegat
Renato Ramos Campos, Jeanine Batschauer, Shandi Cardoso e Nathan Gunther
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