O setor agroindustrial citrícola é um dos mais dinâmicos da economia brasileira. Repleto de lances e movimentos surpreendentes ao longo de sua história relativamente curta (de 1960 em diante), este setor é uma ótima referência para o leitor que deseja compreender, por meio de estudos setoriais, os modos pelos quais as diferenças e dominâncias continuam se desenvolvendo no capitalismo brasileiro:
– Diferenças econômicas, tecnológicas e organizacionais entre os segmentos de um complexo agroindustrial (que surgiu e cresceu em torno do desenvolvimento do mercado internacional de suco concentrado de laranja) e de políticas públicas que facilitaram a expansão da produção de laranja no estado de São Paulo;
– Diferenças econômicas e sociais entre atores produtivos pertencentes às diversas categorias profissionais envolvidas no agronegócio da laranja (citricultores, colhedores de laranja, industriais, intermediários, barracões, operadores de tradings, prestadores de serviços etc.).
– Dominâncias econômicas entre atores coletivos que representam interesses de segmentos produtivos e categorias profissionais em uma rede de poder muito organizada, cujo campo de disputa é cada vez mais pautado em torno das negociações de preços das caixas de laranja entre fábricas de suco e citricultores. Dominância política, que é construída nesta rede política onde o Estado e suas agências públicas têm papel importante – embora este tenha mudado de perfil ao longo das décadas.
Dos segmentos industriais e de serviços ao agrícola, das negociações de preços às políticas públicas e dos interesses privados aos públicos, a relação entre atores citrícolas e seus interesses ganham complexidade. À medida que se vai tentando diagnosticar as diferenças e apontar as dominâncias, amplia-se o espectro do campo de relações e decisões deste importante setor da pauta exportadora brasileira.
Os temas e problemas abordados na presente obra são complexos e refletem a dinâmica de um setor econômico muito importante do Brasil. Um setor marcado por grandes diferenças e dominâncias desde o processo de constituição ocorrido no início dos anos 60: pujante e competitivo no cenário internacional, porém marcado por desigualdades profundas em seu território produtivo. Essas desigualdades marcam a história do setor com sucessos de produção e de comercialização, embora as exclusões econômica e social causem indignações na sociedade civil e nos governantes do Brasil.
Luis Fernando Paulillo
SUMÁRIO Introdução
Capítulo 1. A Organização Agroindustrial Citrícola Brasileira
1.1. Introdução
1.2. Formação e evolução da agroindústria citrícola no Brasil
1.3. O segmento agrícola
1.4. O segmento industrial processador
1.5. Mercado consumidor e canais de comercialização
1.6. Considerações finais
Capítulo 2. A Rede Política Citrícola Brasileira: Constituição e Metamorfoses
2.1. Introdução
2.2. Breves considerações sobre as mudanças no padrão de regulação agrícola brasileiro no período 1964-1999
2.3. A constituição do complexo agroindustrial citrícola e as condições favoráveis para a formação de uma rede política no interior paulista
2.4. A auto-regulação e a rede política citrícola focada na negociação da laranja
2.5. A crise institucional citrícola e as novas mudanças da rede política
2.7. Considerações finais
Capítulo 3. Filtros Institucionais e Entraves Organizacionais na Citricultura Paulista
3.1. Introdução
3.2. Redes de políticas e canais de comercialização: a importância dos filtros institucionais
3.3. A rede política citrícola brasileira
3.4. Entraves institucionais e organizacionais na citricultura paulista
3.5. Considerações finais
Capítulo 4. O Avanço do Setor de Serviços na Agroindústria Citrícola Brasileira: Ganha-ganha ou Perde-ganha?
4.1. Introdução
4.2. Reestruturação industrial e o caráter da terceirização no Brasil
4.3. O setor de serviços e a reestruturação agroindustrial citrícola brasileira
4.4. As transformações no ambiente agrícola: o avanço das cooperativas de mão-de-obra na citricultura
Capítulo 5. Mercado de Trabalho Rural na Citricultura Paulista:Precarização e Exclusão
5.1. Introdução
5.2. Diagnóstico do trabalho volante na agricultura paulista: caracterização e crescimento relativo na década de 1960, as conquistas trabalhistas na década de 1980 e a retração violenta na década de 1990
5.3. A relevância da citricultura na demanda de trabalho agrícola no Estado de São Paulo
5.4. A precarização do trabalho volante avança na agricultura paulista com a flexibilização dos direitos trabalhistas: o caso das cooperativas de mão-de-obra na citricultura paulista
5.5. Considerações finais: Possibilidades atuais de contratação de mão-de-obra na citricultura paulista
Capítulo 6. Formas de Organização dos Produtores Rurais no Território Citrícola Paulista
6.1. Introdução
6.2. Caracterização das formas mais comuns de organização de produtores no meio rural: as associações de interesses e cooperativas de produção e comercialização
6.3. Resgate histórico das cooperativas de citricultores no território paulista
6.4. Resgate histórico da atuação das associações de representação de interesses no território citrícola e a caracterização da rede política atual
6.5. Os pools de venda na citricultura
6.6. As formas de organização na colheita da laranja
6.7. Os consórcios de produtores rurais: embasamento jurídico, vantagens e desvantagens para os atores individuais e coletivos do território
6.8. Os consórcios diferenciados no território citrícola paulista
6.9. Considerações Finais sobre o Modelo Organizacional dos Consórcios de Produtores Rurais
Capítulo 7. Aspectos Técnicos da Produção Citrícola no Brasil
7.1. Introdução
7.2. Características da cultura de citros
7.3. A formação do pomar
7.4. Regulamentação da produção, viveiros e mudas
7.5. Os tratos culturais: manejo do solo e tratamento fitossanitário
7.6. Equipamentos e tecnologia aplicada na produção
7.7. A colheita da laranja: aspectos técnicos
7.8. Os custos de produção na citricultura
7.9. Produtividade e competitividade da citricultura brasileira
7.10. Considerações finais
Capítulo 8. O Suco Orgânico e as Governanças Alternativas para os Citricultores no Brasil
8.1. Introdução
8.2. As cadeias produtivas agroindustriais do suco de laranja concentrado e congelado: commodity e orgânico
8.3. A produção citrícola: convencional e orgânica
8.4. O suco de laranja concentrado: convencional e orgânico
8.5. Agroindústria de processamento, os pools e as formas de governança no Estado de São Paulo
8.6. Estruturas de governança na cadeia produtiva agroindustrial do suco de laranja concentrado e congelado orgânico: o toll processing e a integração a jusante
8.7. O grupo Montecitrus: um breve histórico do pool
8.8. A Usina Nova América: um breve histórico
8.9. Estruturas de governança na cadeia agroindustrial do SLCCO: toll processing e integração a jusante
8.10. Considerações finais
Capítulo 9. Redes de Segurança Alimentar e Citricultura: A Merenda Escolar como Instrumento de Desenvolvimento Local
9.1. Introdução
9.2. A reestruturação agroindustrial no Brasil e a necessidade da formação de redes de segurança alimentar local
9.3. Segurança alimentar e políticas públicas: o viés local é possível
9.4. O embeddedeness (cristalização) da segurança alimentar local
9.5. A concentração da agroindústria citrícola brasileira e as possibilidades de inclusão do suco de laranja natural no mercado institucional
9.6. O Programa “Frutos da Vida” em Bebedouro-SP: metodologia e caminhos da pesquisa
9.7. Considerações finais
Capítulo 10. Comércio Justo Internacional: A Inserção da Citricultura Brasileira
10.1 Introdução
10.2 Histórico do comércio justo
10.3 Definições do comércio justo
10.4 Organizações do comércio justo
10.5 Cadeias do comércio justo
10.6 Mecanismos de controle e garantia
10.7 O comércio justo internacional e a citricultura brasileira
10.8 Outras organizações e ações relacionadas ao comércio justo no Brasil
10.9 Considerações finais
Referências Bibliográficas
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